terça-feira, maio 18, 2010

ENEATIPO V. DESAMOR

  
      Eu disse que existem caracteres aparentemente mais amorosos que outros, e comecei pelos que o são em grau mais notório. O que comentarei na continuação é um dos que parecem ser menos amorosos. Novamente, se o amor é um atributo da essência do ser humano – de seu eu verdadeiro ou núcleo central de seu ser - , é algo independente do caráter, seja este mais dadivoso, disponível e afirmador do outro, ou mais distante, duro ou crítico; trata-se de diferenças de programação ou de diferenças na estratégia interpessoal e, portanto pertencentes ao mundo do pseudo-amor mais que ao amor verdadeiro. Não obstante, o fato de que o esquizóide pareça menos amoroso vale tanto para ele que o vive a partir de fora como para si mesmo: enquanto que para o grupo dos histeróides, da ala direita do eneagrama, é mais fácil enganarem-se com respeito à sua própria capacidade amorosa, ao mais esquizóide dos caracteres é mais difícil que a qualquer outro se enganar, e pode sofrer agudamente sua incapacidade de relação verdadeira com o outro.
     Por mais que em sua tendência à autoculpabilização, o autista desconheça a medida do amor espontâneo em sua psiquis – do ponto de vista do ideal do que deveria ser ou fazer -, é também certo que sua programação se volta contrária a este impulso de unificação com o outro que Platão nos oferece em O Banquete, como resposta ao que possa ser o amor.
     O caráter esquizóide é contrário a este impulso de unificação com o outro, tanto que alberga uma verdadeira paixão por evitar vínculos. Se o amor supõe um interessar-se pelo outro, o esquizóide “autista” é aquele que não se interessa. Não só expressa pouco o seu carinho, como parece uma pessoa mais fria que as demais, mais apática, mais indiferente.
     Gosta de receber, sim, porém não pede, porque aprendeu que pedir pode molestar e teme que sua voracidade o leve a uma frustração maior do que a auto-imposta frustração de ser paciente. Inclusive o seu desejo de receber amor está amortecido já que se acomodou vivendo com o menos possível, com as mínimas necessidades que representem dependência de outros e com a necessidade de dar para receber. Mais ainda, tem dificuldade em saber o que recebe porque emocional e implicitamente não acredita no amor mais do que o EVIII, e tende a pensar que aqueles que o manifestam, fazem-no por seus próprios interesses, conscientes ou inconscientes. Ou seja, não acredita que seja digno de receber amor porque não se sente suficientemente valioso ou porque seu próprio desinteresse pelo outro o leva a sentir que não dá o suficiente.
     Existe, portanto, uma não-entrega ao amor, não-entrega ao outro, não-entrega à vida e um super controle do medo à entrega, da ameaça que significa a necessidade do outro. Em sua excessiva intolerância pelas exigências ou expectativas alheias, vive o desejo do outro principalmente como uma limitação.
     A mais subdesenvolvida das formas do amor é naturalmente o amor maternal, dadivoso e compassivo; o amor ao próximo se vê eclipsado pelo amor aos ideais e a preocupação por si mesmo. Existe pouco sentimento de camaradagem, pouco sentimento de comunidade ou fraternidade com os demais mortais. É também pequena a disponibilidade para com os filhos, que são vistos – mais do que no caso de outros caracteres – como um peso, um impedimento. Outras vezes, entretanto, dá-se uma projeção muito intensa da própria “criança interior” abandonada com o filho, e isto leva à super proteção e a um apego que se expressa em uma relação muito limitadora para este.
     Egoísta, o avaro também o é consigo mesmo; não se dá satisfações, pressiona-se e sente que deve ter méritos para dar sentido à vida.
     No amor de casal, os problemas derivam de sua escassa disponibilidade, da exigência de não ser exigido, do isolamento e da escassa empatia. São difíceis as decisões de convivência e matrimônio – que implicam na perda da privacidade e do controle exclusivo sobre a própria vida. A sexualidade pode não ser intensa e percebida como uma exigência a mais.
     O amor a Deus, cujas exigências se fazem menos presentes que as do próximo, passa a substituir em certa medida o amor humano, ainda que o mesmo amor a Deus se debilite se não está apoiado em uma experiência suficiente do amor humano e do amor a si mesmo. Apesar disso, resulta mais fácil, menos conflituoso relacionar-se com um objeto ideal. Correspondentemente, neste caráter está mais desenvolvido o amor-admiração (amor de filho para pai) que a generosidade.

3 comentários:

Anderson Simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anderson Simões disse...

Sou um tipo 5 e tenho experimentado um caminho de liberdade em relação a estas sensações egóicas do 5.
Mas, como diz o próprio subtítulo do blog, não é fácil. Nem um pouco... Por outro lado, digo que, quando se começa o caminho, parece ser algo sem volta. E a cada dia que passa e nova experiência vivida e percebida, sinto-me mais próximo do equilíbrio, usando a saída em 8.
Mesmo assim, é uma batalha diária!

Anderson Simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.