segunda-feira, maio 24, 2010
ENEATIPO VIII. AMOR AVASSALADOR.
Seguindo a mesma ordem de caracteres do capítulo anterior e abordando agora aqueles da
área superior do eneagrama, vejamos a perturbação do amor nos luxuriosos.
Se a indiferença emocional constitui um desamor, seria próprio falar de atração luxuriosa
mais que de amor luxurioso como de um contra-amor. Conseqüência da sede de intensidade, o
impulso para a união sexual toma lugar mais do que conduz à união íntima entre as pessoas,
enquanto que o luxurioso (tal como disse Stendhal de Don Juan) considera o sexo oposto como
inimigo e busca somente vitórias. “O amor à maneira de Don Juan” – reflete Maurois - “assemelha-
se ao gosto pela caça. É uma necessidade de atividade que precisa ser despertada por objetos
diversos”.
O amor luxurioso é o amor como no protótipo do “Don Juan” original (quer dizer, o burlador)
que antepõe seu desejo para o outro: um amor que invade, que utiliza, abusa, explora, e que exige
por sua vez um amor que se confirme através da submissão e do deixar-se explorar. Custa-lhe
receber porque não acredita no que recebe. Porque em sua posição cínica, não acredita no amor do
outro, tem que pô-lo à prova. Põe à prova o amor do outro, por exemplo desequilibrando-o e
observando-o em situações de emergência, ou pedindo-lhe o impossível, pedindo-lhe a dor e a
indulgência como demonstração de sua sinceridade.
À parte o aspecto excessivamente avassalador do amor luxurioso, existe um paralelismo de
íntima desvinculação que deriva de sua grande necessidade de autonomia. Posto que se trata de
um caráter duro que anda em guerra com o mundo, é naturalmente difícil que se possa falar de amor no sentido de união ou de relação – exceto num sentido exterior. Recebe mal o amor do outro, por
mais que constitua uma defesa da própria independência; nega o que lhe é dado e nega o próprio
desejo de recebê-lo, posto que significa uma invasão de seu sistema e representa o perigo de sentir-
se débil.
O amor (de casal) do EVIII não só é invasor, excessivo e avassalador, como também
violento. Não poderia ser menos, já que o caráter violento se revela sobretudo na intimidade. Além
de “castigador” exigente e provocador, é anti-sentimental: busca um amor-contato, concreto, não-
emocional, que dura o que dura o contato; um amor no aqui e agora sem compromissos e com a
negação da dependência, que põe a pessoa em relação com a sua fragilidade, sua insegurança.
O aspecto pseudo-amoroso está no erótico; também em uma sedução que é como uma
“compra” do outro ou sua indulgência em certas situações. O amor compaixão é negado porque é
incompatível com a notória ênfase do amor-necessidade. O amor-admiração, no entanto, está mais
à mão. Por mais que a pessoa seja competitiva, pode reconhecer e admirar intensamente, sobretudo
quando se trata de modelos fortes. O amor a si, todavia, é o mais forte; o amor ao próximo vem em
segundo lugar, apesar de tratar-se de um ser aparentemente anti-social: é contrário às normas mais
que às pessoas concretas, e não é tanta como parece a diferença entre os eneatipos I e VIII no que
se refere aos impulsos. Em um caso a agressão está muito racionalizada e se percebe como um
serviço de boas causas; no outro se reconhece a agressão como tal, e existe uma espécie de
inversão de valores em que o bom é considerado mal e vice-versa. Porém existem laços humanos
que vão mais além do que são, podem ser mais valorizados do que se considera bom, e a
solidariedade social pode levar a atitudes de vingança, de clamor por justiça pelo outro, comparáveis
a tomar-se a justiça nas próprias mãos quando se trata da própria vida. O amor a Deus ou ao ideal e
transpessoal é o mais débil dos três.
O aparente amor a si mesmo do luxurioso se reconhece como um pseudo-amor, se visto de
perto; porque na insaciabilidade avassaladora da busca de prazer, vantagem ou poder, a pessoa
não reconhece sua própria necessidade mais profunda: a fome amorosa mesmo. Não é a criança de
peito interior que se satisfaz, mas a um adolescente titânico que se propôs a conseguir o que lhe foi
dado anteriormente, de tal forma que sua própria força em reclamá-lo passa a ser um substituto do
desejo amoroso.
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